A república – livro vii
Por Lara Ribeiro
Com o Livro VII, o excurso incrustado no trajeto da obra é concluído na exposição da Teoria das Idéias, em cujo contexto é requerida para ilustrar a natureza do conhecimento pleno e verdadeiro, que Sócrates julga ser necessário fazer chegar aos guerreiros filósofos, ou seja, os guardiões governantes de cidade sua perfeita. Nesse parêntese foi discutida a viabilidade da cidade perfeita, que só pode existir de fato se tiver filósofos por governantes, sua natureza e, seguidamente, a natureza do conhecimento verdadeiro. É esse exame que vem sendo empreendido dês de o Livro V, e agora encontra sua conclusão com a bela exposição da natureza do conhecimento do inteligível presente na Alegoria da Caverna, que descreve a ascensão da alma ao mundo das idéias e, principalmente, à idéia do bem – tida como princípio de perfeição de todas as demais.
Logo de início, Sócrates compara a o trajeto que tira o homem da ignorância e o leva ao conhecimento verdadeiro com a situação na qual estaria um grupo de pessoas que sempre viveu na escuridão de uma caverna, preso por grilhões, podendo ver apenas sombras que lhe chegavam da entrada da caverna atrás deles e refletidas na parede para a qual estavam voltados. Esses homens, tendo sempre vivido na escuridão, conseguem ver apenas as sombras do que se passa fora de sua caverna e, não tendo consciência de que haja algo além da realidade dela, tomam por reais sombras que não passam de simulacros do mundo exterior. Diante disso, se libertasse-mos um dos que lá viviam, coloca Sócrates (515 c), e o arrastasse-mos para fora da caverna, com certeza ele se oporia e o contato repentino com a luz do dia o cegaria por completo. E se, ainda, quisesse-mos fazê-lo acreditar que a verdadeira realidade era a que ele via então, isso de nada adiantaria, pois ele certamente quereria voltar para sua caverna. Mas, se aos poucos mostrasse-mos a essa pessoa as sombras, os reflexos, depois as estrelas e a noite,