A República do capital
Décio Saes
Capitalismo e processo político no Brasil contemporâneo
Francisco Pereira de Farias∗
Em sua reflexão sobre o “campo político”, Pierre Bourdieu chama a atenção para duas posturas insatisfatórias na análise da representação política de interesses coletivos: a rigidez de esquemas classificatórios e o descritivismo conjuntural (Bourdieu, 1981). No conjunto de ensaios em A República do capital: capitalismo e processo político no Brasil, Décio Saes encaminha uma estratégia de resposta ao desafio posto pela crítica à análise das relações de classe no campo político.1 Em linhas gerais, o autor procura articular as determinações estruturais da história com os elementos de uma conjuntura através do conceito de processo político.
Saes distingue três dimensões no processo político: uma comportamental, outra institucional e uma outra ideológica. A primeira dimensão diz respeito à orientação das políticas governamentais frente aos interesses coletivos. As medidas econômicas e sociais do Estado suscitam a emergência de grupos opostos na cena política, que lutam em defesa de seus interesses. Numa conjuntura de estabilidade da ordem social, tais interesses de grupos são constituídos essencialmente por frações de classe. Quanto a esse aspecto, a análise enfrenta algumas questões-chave, a saber: qual (quais) desses interesses de frações vem (vêem) a ser hegemônico(s) no conjunto das políticas estatais, e como se forma e se sustenta tal hegemonia? A segunda dimensão do processo político se refere à configuração das instituições políticas: o tipo histórico de Estado, a forma de Estado, o regime político.
Sobre esse aspecto, a análise orienta-se por questões tais como: dado o tipo histórico de Estado, quais classes ou frações do bloco no poder estão excluídas de aspirar a hegemonia política? Qual a relação entre a hegemonia política e a forma do Estado/regime político? A terceira