A Representação da figura feminina no romance Ensaio Sobre a Cegueira
Introdução
O romance Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago pode ser considerado como um dos mais famosos desse autor. Diferencia-se de suas publicações anteriores por apresentar uma representação global, ultrapassando os limites das terras portuguesas. Deste modo, a análise da narrativa perpassa sua contextualização, observando a ausência da demarcação explícita das categorias narrativas tempo e espaço, assim como o autor se abstém da nomeação dos personagens, identificando-os através de funções ou características físicas, o que reforça a intenção de ampliar o enfoque crítico-político para além do contexto português. Além disso, destaca-se a valorização da figura feminina, explicitada na “mulher do médico”, visto que ela apresenta elementos que a caracterizam como uma representação de que os demais passem a enxergar e não somente ver. Para tanto, analisa-se os elementos típicos do gênero feminino que dão sentido às ações, sentimentos e pensamentos da mulher do médico.
Contexto histórico
O romance “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago não nos permite determinar sua temporalidade, ou mesmo definir seu espaço, tendo em vista a ausência de dados que especifiquem esses limites. Assim “a história do romance é impossível de se situar”1, o que promove uma abertura para a reflexão do leitor sobre o seu próprio tempo, espaço e relações, bem como questionamentos quanto à possibilidade de se resgatar o verdadeiro sentido de identidade e o que de fato é importante considerar nesse processo. Excetuando-se alguns referentes como o sinal de trânsito, no momento inicial do livro, que conduz a uma associação com a pós-modernidade, não há precisão quanto à localidade geográfica cenário da narrativa. Deste modo, Saramago, diferencia-se de suas criações anteriores, no sentido de identificar sua proposta com qualquer sociedade inserida no contexto pós moderno, já que em seus romances