A realeza cristã na alta idade média (marcelo cândido da silva)
Marcelo Cândido da Silva apresenta fontes que contestam a versão historiográfica dos francos como conquistadores da Gália. O autor apresenta evidências de que os francos se estabeleceram na Gália através da concessão de Provença feita pelos ostrogodos, que tentavam evitar uma coligação franco-romana. Sendo assim, os francos se estabeleceram porque tanto ostrogodos como bizantinos temiam uma guerra. O fato dos francos serem delegados da autoridade imperial (Justiniano) quer dizer que os francos, de certa forma, eram dependentes do império. A concessão feita pelos ostrogodos precisava de uma confirmação. Porém, esse discurso exalta a política de Justiniano e Teodora, transformando os francos em súditos do império. Ao que parece, o imperador não tinha essa força, não há indícios de que pudesse se impor. De qualquer forma, talvez, o historiador Procópio tenha indicado apenas uma hierarquia existente e, não, a força absoluta do Império. Algumas epístolas da época sugerem isso ao demonstrarem o cerimonial existente nas formas de tratamento; Justiniano surge em tais documentos como o “Augusto” ou o “Pai.” São duas hipóteses que se apresentam: 1. Procópio de Cesaréia pode ter exaltado Justiniano, uma vez que esse autor era pró-império;/ 2 mas também pode ter percebido uma hierarquia envolvendo romanos, bárbaros e bizantinos. Os vínculos hierárquicos mostram os merovíngios não completamente dissociados do Império. Podemos perceber isso na ascensão de Clóvis. Depois que Childerico morreu, ascendeu Clóvis, que assumiu como governador da Bélgica Segunda, tendo convivido com um rex romano em seus territórios. Esse rex romano era Syagrius, filho de Egidius, ou seja, um general que desejava estabelecer um reino independente na Gália Setentrional com o apoio dos visigodos. Enfim, existia uma tensão entre Clóvis e Syagrius, e essa tensão foi resolvida em 486 com a vitória de Clóvis em Soisson.