A questão fundiária no Brasil
O problema do latifúndio no Brasil tem raízes ainda em seus tempos enquanto colônia de Portugal. A doação de sesmarias pela coroa portuguesa engendrou desde cedo uma concepção de propriedade extensiva da terra. O uso de grandes extensões de terra para o plantio de cana-de-açúcar para o mercado externo, bem como a pecuária extensiva para o mercado interno cristalizou uma estrutura fundiária pautada na grande propriedade na mão de poucos.
Atualmente, apesar de a pequena propriedade representar mais de 80%, em questão de espaço territorial, elas constituem menos de 25% das terras destinadas à agropecuária. Ou seja, 75% das terras estão nas mãos de apenas 20% da população rural. É muito para muito poucos. No centro deste problema, se desenrolam outros que constroem o cenário fundiário brasileiro: terras devolutas, sem uso, conflitos entre posseiros e grileiros, conflitos por terras indígenas, além de toda a discussão pela reforma agrária envolvendo o Movimento dos Sem-Terra.
A desapropriação do trabalho também se configura como um agravante. O crescimento dos então chamados “boias-frias”, ou seja, pessoas que possuem um regime de trabalho temporário, sem vínculos duradouros e, muitas vezes, submetidos a uma alta carga de trabalho por uma baixa remuneração, coloca em cena a falta da principal fonte de trabalho dessas pessoas: a terra. Sem uma porção para si mesmas, são forçadas a vender sua mão de obra em terras que não suas.
Os conflitos entre grileiros e posseiros há muito vêm resultando em consequências na maioria das vezes violentas. Posseiros, aqueles que sem o título de terras, acabam ocupando territórios devolutos ou sem uso, encontram resistência na figura do grileiro, em geral, um encarregado de algum latifundiário que, se utilizando de documentações falsificadas, expulsam os posseiros, tendo o apoio estatal. Ações violentas, não raro, acabam sendo geradas a partir dessa situação.
A estrutura fundiária desigual no Brasil