A questão da Ironia nos poemas de Adília Lopes
Rorty fala do fato da ironista ser impressionada por outros vocabulários, retirados de pessoas ou livros que encontrou, influenciarem seu próprio vocabulário. Rosa M. Martelo notifica que “o mundo do texto” de Adília Lopes é altamente marcado pela sua discursivização, “feito de histórias, de palavras e frases ouvidas ou lidas”.
Aqui neste poema, aparece a epígrafe da poetiza Emily Dickinson, que traz não só pela epígrafe em si, toda uma significação que se coaduna ao do poema, mas também a biografia de Emily é paralela ao da poetisa lusitana, e não pode se deixar passar por alto, em se tratando de Adília Lopes, para quem a poesia é altamente ligada a sua história de vida.
Emily Dickinson foi uma poetisa americana, que viveu entre os anos 1830 e 1886, teve uma formação influenciada pela religião, tendo estudado em um seminário. Após o término de seus estudos retornou à casa dos pais para deles cuidar. Não se casou, e por conta também disso, perscruta-se sobre sua vida solitária.
Paralelamente, Adília Lopes, ou Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira também tem sua vida marcada pela religião, recorrente tema em seus versos. Assim como Dickinson não se casou. Como a poetiza americana, a lisboeta teve forte a presença familiar, para esta, especialmente a figura das mulheres lhe causou fortes impressões, sobressaltantes em alguns poemas.
Centrando-se no poema, os dois primeiros versos introduzem de antemão dicotomias irônicas. Observando a forma, os versos são construídos similarmente, a mesma estrutura, porém são modificados os pronomes que abrem os versos: eu/tu, e os nomes que fecham os mesmos: José/Maria. A significação torna-se irônica ao se utilizar na primeira estrofe de um modo de dizer