A questão agrária em manuel correia de andrade
Cícero Gomes Correia[1]
Neste artigo pretendemos destacar alguns aspectos da questão agrária na obra de Manuel Correia de Andrade. Dado o caráter desta exposição, nos limitaremos em tocar em algumas questões que consideramos centrais, sabemos, portanto, que o tema é bastante complexo e que a própria concepção do autor não é simplista.
A análise cristalina e quase poética de Andrade para analisar tal questão é estimulante porque não dá a última palavra sobre o assunto e nos leva a dialogar com seus escritos. Percebemos também, ao ler suas obras, pelo menos as relacionadas a questão agrária, que o autor esteve sempre atualizado seus trabalhos em relação aos novos dados apresentados pela realidade.
A questão agrária, tema que assumiu fundamental importância a partir da segunda metade dos anos 1950, volta a ser debatido a partir de meados dos anos 1990, nos meios acadêmicos e nos movimentos sociais do campo, ainda de forma muito tímida. Consideramos este um tema vital da sociedade brasileira porque a questão agrária continua sem solução. Acreditamos que, para discutir a realidade brasileira hoje, é necessário abrir outros espaços e eventos para o debate que, sem dúvida, proporcionará o florescimento de novas idéias e interpretações sobre assunto tão sério que necessita de alternativas para uma verdadeira reforma agrária sem a qual a nação e cidadania continuarão inconclusas[2].
Os escritos de Manuel Correia de Andrade sobre a questão agrária foram produzidos em vários contextos de intenso debate. Na década de 60, por exemplo, esse debate chamou a atenção do mundo acadêmico e tomou conta das rodas políticas e dos programas partidários, pois a sua interpretação implicava a definição das estratégias de mudanças sócio-econômicas do país. Naquela época, confrontaram-se basicamente os que analisavam a realidade agrária como um entrave ao desenvolvimento do capitalismo e até