A queda (helder rocha)
IVO – Ele vai descobrir.
ATA – Não, vai não.
IVO – E se ele descobrir?
ATA – Não vai se importar.
IVO – Vamos embora?
ATA – Sim. Está na hora.
IVO – Promete que nunca mais voltaremos aqui?
ATA – Nunca mais.
IVO – Então vamos logo. Quero esquecer tudo isto. Estou muito triste.
ATA – Mas não fizemos nada de errado.
IVO – Atravessamos a linha. Ele sempre disse que isso não podia.
ATA – Sim, mas não aconteceu nada. Voltaremos e tudo será como antes.
LUX – Fiquem mais um pouco.
(Ata e Ivo olham para Lux - uma figura estranha, colorida, sem sexo definido.)
LUX – Ainda é cedo.
IVO (para Ata, assustado) – Quem é?
ATA – Não sei. (levantando-se) Vamos embora.
LUX – Ainda não está terminado. Fiquem.
(Ivo não tira o olhar de Lux, como que hipnotizado.)
ATA (para Lux) – Não podemos, nosso tempo acabou.
LUX – O tempo não acaba.
ATA – Acaba sim. Nós temos que ir (força Ivo a levantar-se). Adeus.
LUX – É o medo.
ATA (irritada) – Quem é você?
LUX – Você tem medo de mim.
ATA – Tenho sim. Não conheço você.
IVO (assustado) – Vamos embora!
LUX – Eu sou Lux. Estou aqui para lhes dar a liberdade.
ATA – Acho que você enganou-se. Estávamos de passagem. Não somos prisioneiros. (para Ivo) Vamos!
LUX – É claro que são. Seria uma pena que voltassem para suas prisões.
IVO (insistente) – Vamos embora!
ATA – Não somos presos. Podemos ir para onde desejarmos.
LUX – Vocês desejam?... Talvez sim. Senão não teriam atravessado a linha. Mas deve ter sido uma faísca acidental. Se fossem livres não voltariam.
ATA – Por que você diz isto?
LUX – Vocês não pensam.
ATA – Claro que pensamos! O que você acha que estamos fazendo? Quem é você?
LUX – Não pensam. Suas decisões não são suas. São programadas. Mas há falhas... Vocês são tão inocentes que param para filosofar com um estranho, como se realmente existissem e pudessem tomar decisões.
ATA – Pois eu estou indo