A Pré-História da Antropologia
INTRODUÇÃO
A origem da reflexão antropológica é recente à descoberta do Novo Mundo. As primeiras discussões e observações do povos "distantes" vieram da "literatura de viagem", baseada na reação dos primeiros viajantes, e dos relatórios dos missionários, comos os jesuítas, no século XVII. Esse primeiro contato com povos "desconhecidos" até então veio acompanhado da formação de estereótipos, como as definições de índios como bárbaros e a consideração dos povos "distantes" como superiores ou iguais aos viajantes, que prejudicam a antropologia espontânea, enraizando-se até hoje nela.
A FIGURA DO MAU SELVAGEM E DO BOM CIVILIZADO Muitos foram os termos utilizados para designar os povos recém descobertos, mudando ao passar dos séculos: bárbaros na antiguidade grega, naturais ou selvagens no Renascimento, primitivos no século XIX, e subdesenvolvidos atualmente. Além disso, tais povos eram considerados animais, diferentes da humanindade, expulsos da cultura, ou seja, componentes da natureza. Eles eram considerados bestas ou "mais diabos", já que os viajantes afirmavam que os "selvagens" não acreditavam em Deus, não tinham alma, não tinham acesso à linguagem, eram feios e alimentavam-se como animais. A partir disso, os viajantes que descobriram as novas terras, onde moravam os povos "estranhos", se responsabilizaram por colonizar a nova área e por civilizar os habitantes ali residentes, os quais teriam sido "libertos" dos pecados ao serem batizados e sido humanizados com a linguagem e com os intrumentos de ferro. Assim, os descobridores justificavam a tomada de ouro, penas e pérolas dos índios. Para muitos, havia uma separação nítida no mapa-mundi entre o estado de natureza, irremediavelmente imutável, e o estado de civilização. Ademais, dentro do próprio conceito de "selvagens" havia uma diferenciação, estabelecendo-se que os africanos eram nitidamente inferiores, uma infrahumanidade, pelo fato dos negros