A prática educativa em pierre bourdieu
“(...) Embora o sistema de ensino simule conhecer apenas os valores propriamente escolares quando, na verdade, está a serviço dos valores das classes dominantes, isto é possível porque os sistemas de maneiras que distinguem as taxinomias escolares remetem sempre (qualquer que seja o grau de refinamento) a diferenças sociais. Como sabemos, em matéria de cultura, a maneira de adquirir perpetua-se no que é adquirido sob a forma de uma certa maneira de usar o que se adquiriu. Assim, quando acreditamos reconhecer por nuances ínfimas, infinitas e indefiníveis que definem a “destreza” ou o “natural”, as condutas ou os discursos socialmente designados como autenticamente “cultivados” ou “requintados” pois neles nada lembra o esforço ou o trabalho de aquisição, na verdade referimo-nos a um modo particular de aquisição, a saber, a aprendizagem por familiarização insensível cujas condições de realização só se realizam nas famílias que têm por cultura a cultura erudita, ou melhor, para aqueles que, possuindo por cultura maternal a cultura erudita, podem manter com ela uma relação de familiaridade que implica na inconsciência da aquisição. E de maneira mais geral, a relação que um indivíduo mantém com a escola, com a cultura e com a língua que ela transmite e supõe – relação presente em todas as suas condutas, relação que as avaliações e os veredictos escolares sempre levam em conta - , é mais ou menos “fácil” e “natural”, “tensa” e “laboriosa” conforme suas chances de sobrevivência no sistema, isto é, segundo as probabilidades (objetivamente ligada à sua categoria) de ter acesso a uma posição determinada no sistema.
Pretendendo-se à relação com a cultura de molde a transmitir a ilusão de exprimir as qualidades intrínsecas da pessoa, ordenados como um sistema de maneiras indefiníveis, e privilegiando dentre todos os tipos de relação com a cultura aqueles que menos evocam a aprendizagem, o sistema de