A PROFESSORA DE SENSIBILIDADES
Nicole ministra aulas em uma escola pública no período matutino e à tarde trabalhava como secretária em uma escola particular. É professora de Língua Portuguesa e por força de seu ofício ama as palavras e coleciona sentenças. Em suas aulas, nos recados que jamais esquece de deixar na prova de seus alunos e até mesmo nos singelos avisos que anotava para si mesmo ou para o quadro da parede, nunca se limitava a transmitir apenas a informação. Uma regra que jamais deixava de obedecer era da clareza e da objetividade e assim pensava duas vezes em o que escrevia para olhar pelos olhos de possíveis leitores reconhecendo a lucidez da certeza e a síntese na informação. Mas, para Nicole o mais importante em seu papel como mestra e em sua ação como gente era menos a forma e mais a sensibilidade com que a emoldurava. Dizia sempre:
- Habilidade é importante, mas habilidade sem sensibilidade é quase nada.
Nicole tem razão e é uma pena que outros professores não pensem seus pensamentos. Não apenas professores de sua disciplina, mas professores de qualquer disciplina. Estendendo sua opinião a outros contextos, seria certo afirmar que para a Geografia e para a História, para a Matemática e para as Ciências assim como para o estudo das Artes, das Línguas Estrangeiras e outra disciplina mais, existe uma quase obsessiva preocupação dos professores em desenvolver a habilidade, esquecendo-se da sensibilidade.
Habilidade todo professor ensina, mesmo quando não sabe que está ensinando habilidade. Ensinamos habilidades quando ensinamos a ler, interpretar, somar, comparar, medir, justificar, classificar, sintetizar. Ensina-se habilidade quando se informa que foi Pedro Álvares Cabral e não outro quem descobriu o Brasil, quando se diz que a Lua é satélite da Terra e o contrário está errado ou quando se afirma que a água do mar é salgada pelo sal que por bilhões de anos, lentamente, os rios levaram. Assim, habilidades são não apenas conteúdos que se aprende,