A primeira vez
Adriana Alves Marinho
1.Entre a Cocanha e o fantástico
A proposta deste artigo é refletir sobre uma possível convergência existente entre os Estudos Literários, enfocando a categoria do fantástico e os Estudos da Utopia, mais especificamente o imaginário da Cocanha. Com a leitura do ideário das Cocanhas e da antologia de contos Cada homem é uma raça (1998), do escritor moçambicano Mia Couto, que teve sua primeira edição na década de 90.
Um dos percursos possíveis, para a leitura proposta, é a observação da relação entre a harmonia, caráter típico da Cocanha, e a desastibilização gerada pelo fantástico.
O termo Utopia (do grego ou, não, topus,lugar; que não existe, o não lugar) criado por Thomas Morus, de acordo com Moisés(2004, p. 458) “ é o lugar onde tudo está bem, num sentido geral, o termo é usado para denominar construções imaginárias de sociedades perfeitas”. Então utopia configura uma dada sociedade onde se vive em harmonia, em perfeitas condições de vida. O país da Cocanha está situado numa geografia imaginária, com viagens a lugares desconhecidos e visões fantásticas. É justamente esse modelo proposto pela utopia da Cocanha, que está fora de um espaço e de um tempo ,se contrapondo com a realidade, que sob nosso perspectiva caracteriza o maravilhoso. Jacques Le Goff, no prefácio de Cocanha-A história de um país imaginário, aponta os “quatro temas principais desse país sem lei, limite ou repressão: a abundância, a ociosidade, a juventude e a liberdade” (1998,p.9).Salientando o diálogo desta manifestação cultural com o fantástico.
Da mesma forma, o fantástico, cuja etimologia advém do latim phantasticus, por sua vez do grupo phantastikós, os dois oriundos de phantesia, se refere ao que é criado pela imaginação, ao imaginário, ao fabuloso, ao que não existe na realidade. Aplica-se a um fenômeno de caráter artístico como é a literatura, cujo universo é sempre