A presença indígena na constituição da identidade
Somos a continuação de um fio que nasceu há muito tempo atrás... Vindo de outros lugares... Iniciado por outras pessoas... Completado, remendado, costurado e...Continuado por nós. De forma mais simples, poderíamos dizer que temos uma ancestralidade, um passado, uma tradição que precisa ser continuada, costurada, bricolada todo dia.2 – Daniel Munduruku
O problema da identidade nacional no Brasil é um tema recorrente entre nós e que, de tempos em tempos, vem à tona, seja através da arte, seja através da manifestação de grupos reivindicando algo de seu que tenha sido esquecido pelo discurso instituído. Pelo visto, não foram poucos os elementos que ficaram de fora desse discurso, pois é longa a busca de uma completude do vazio, de uma identidade que sirva ao cidadão nacional como sendo a mais completa possível. E como não seria recorrente o tema se, como sabemos, a identidade do Novo Mundo, por séculos, não foi mais que um modelo baseado na figura do colonizador, branco e europeu? Como seria completa uma identidade que não tem em si a participação fundamental do negro na constituição da sua história? E ainda, como ter identidade nacional quando não se reconhece a base dessa nacionalidade em seus nativos? A identidade de um Brasil que não olha para dentro de si, que não encara seus índios como raiz da nacionalidade, que está ancorada no longínquo mar português, não poderia, realmente, estar completa. A negação dessas raízes por parte dos brasileiros não é sem razão de ser. A colonização, como sabemos e comentamos atualmente, foi um processo traumático na nossa história3. Em Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana, Freud diz que:
É universalmente reconhecido que, no tocante à origem das tradições e da história legendária de um povo, é preciso levar em conta (...) que as
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Rio Grande do Sul – Brasil. MUNDURUKU, Daniel. “Em busca de uma