1. Segundo Aristóteles1, a hamartia é o erro trágico. Para ele, na estrutura do mythos a hamartia acontece por ignorância, e não por vontade de se fazer o mal, “Resta portanto a situação intermediária. É a do homem que não se distingue muito pela virtude e pela justiça; se cai no infortúnio, tal acontece não porque seja vil e malvado, mas por força de algum erro; e esse homem há de ser algum daqueles que gozam de grande reputação e fortuna, como Édipo e Tiestes ou outros isignes representantes de famílias ilustres”. Após tal erro, dá-se a anagnorisis (que é o reconhecimento deste erro, tornando-o evidente). Segundo Filomena Hirata2, ”Com o auxilio das definições de Aristóteles na Ética a Nicômaco, é possível definir a hamartia da Poética 1453 a 10 como um ato perigoso, cometido porque o agente não é conhecedor de alguma circunstância vital. A essência da hamartia é a ignorância combinada com a ausência de intenção criminosa. Segundo Lucas, simples falta de conhecimento é ágnoia; hamartia é falta de conhecimento necessário se decisões corretas devem ser tomadas”. Em Édipo Rei, tal erro se dá de forma inconsciente, por ignorância e desconhecimento do personagem em relação à sua própria condição (a hamartia acontece no momento em que a maldição dos Labdácias se efetiva, quando Édipo mata Laio – seu pai, e casa-se com Jocasta – sua mãe). A anagnorisis é o reconhecimento do erro, e este por sua vez, é responsável por desencadear a reviravolta da tragédia, ou seja, a peripetéia. Ainda citando Hirata2, “Agir di’agnoian é, portanto, uma condição da hamartia. Pode-se lembrar aqui que quando se fala na ignorância das várias circunstâncias em que um dano é realizado, a que mais interessa é a ignorância da identidade da pessoa implicada na ação, pois o trágico reconhecimento é o da identidade das pessoas. A hamartia é o correlato da anagnorisis, nesse sentido ela só ocorre no enredo complexo.” Na tragédia Sofocliana, quando Édipo descobre seu erro, ele passa da ventura para