A porta fechada, a chave por dentro: análise do dizer da mãe de um filho denominado psicótico
A PORTA FECHADA, A CHAVE POR DENTRO
ANÁLISE DO DIZER DA MÃE DE UM FILHO DENOMINADO PSICÓTICO
Cynara Maria Andrade Telles 1
Lucília Maria Sousa Romão 2
RESUMO: A partir dos postulados da Análise do Discurso de filiação francesa e da leitura lacaniana da psicanálise, buscamos refletir sobre o sujeito, distante da concepção de indivíduo ou de ser passível de categorização, tomando-o como posição no discurso. Temos no horizonte o interesse em interpretar os sentidos inscritos na carta de uma mãe de uma criança denominada psicótica, buscando compreender as posições-sujeito materializadas na ordem da língua. Adiantamos que o sujeito-mãe tece o seu dizer, ancorando-se em regiões de sentido tidas como legítimas para significar o seu filho e a si mesma, recorrendo a negativas para poder dizer de uma ordem de falta que tanto a assalta. Consideramos ser este um exercício de análise dentre tantos outros possíveis, ou seja, ser um trabalho provisório de reconhecer que as palavras mais escondem do que mostram.
PALAVRAS-CHAVE: discurso; sujeito; ideologia; mãe; psicose infantil.
Dentre tantos, um trajeto na linguagem
“Dizem que finjo ou minto/ Tudo que escrevo.
Não./
Eu
simplesmente
sinto/
Com
a
imaginação /Não uso o coração/ Tudo o que
1
2
FFCLRP/USP – Ribeirão Preto. Rua Ceará, 2005 ap. 2 CEP 15085520 – Ribeirão Preto – SP
Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da FFCLRP/ USP.
2 sonho ou passo,/ O que me falha ou finda,/É como que um terraço/ Sobre outra coisa ainda.”- Fernando Pessoa
“As palavras que digo escondem outras”, essa formulação dita pela personagem
G.H., em um dos romances mais densos de Clarice Lispector, marca o postulado de que o sentido e a linguagem não são evidentes. Dito de outra forma, ela instala um modo de compreender que a opacidade está posta a cada retomada de palavra de tal maneira que, em esconderijos muito subterrâneos, em silêncios alongados, em dizeres