A poesia e o teatro depois de 1945
Novos caminhos da poesia
Didaticamente, podem ser estabelecidas duas linhas como as mais marcantes da poesia que se desenvolveu depois de 1945. Essas duas linhas são, por um lado, a preocupação com a composição artesanal do poema, com a exploração das diversas características da linguagem; por outro lado, temos também uma poesia mais preocupada com a mensagem, com a comunicação rápida e direta com o leitor para fazê-lo refletir sobre a realidade em que vive. Essas duas concepções poéticas marcarão a segunda metade do século XX, constituindo, como veremos, o concretismo e a chamada poesia social.
João Cabral de Melo Neto
A poesia do pernambucano João Cabral de Melo Neto destaca-se pela consciência sobre o próprio fazer poético, assumindo o poema como construção artesanal, em que a expressividade do eu lírico nasce do enfrentamento dos desafios de fazer poesia, mas sem desprezar os temas de seu tempo.
Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão
Concretismo
O concretismo representa a tendência mais radical da abolição da linguagem poética tradicional em favor de uma comunicação que privilegia o trabalho artesanal do poema. Afirmando o fim do verso e da sintaxe tradicional, os concretistas procuram elaborar novas formas de comunicação poética, com o predomínio dos aspectos visuais e sonoros das palavras. Esses