A poesia satírica de Gregório de Matos
O desengano barroco tem como uma de suas consequências o implacável gosto pela sátira. Resposta a uma realidade que os artistas julgam degradada, a poesia ferina e contundente não perdoa nenhum grupo social. Ricos e pobres são fustigados pelas penas corrosivas de Gôngora, de Quevedo, como mais tarde o fará o brasileiro Boca do Inferno. Esta ironia cáustica e por vezes obscena é traço marcante do barroco ibérico.
"O termo satyra surge da motivação etimológica do termo latino satura pelo grego satyros, identificação facilitada pelo fato de a satura latina ser uma mistura de discursos e o satyros grego ser também misturado, metade homem, metade bode." (HANSEN, 1989, p. 451)
A sátira é uma técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema (indivíduos, organizações, estados), geralmente como forma de intervenção política ou outra, com o objetivo de provocar ou evitar uma mudança.
A poesia satírica de Gregório de Matos não tem unidade prescritiva de outros gêneros: é mista, mesclando alto e baixo, grave e livre, trágico e cômico, sério e burlesco. A sátira mistura tópicas variadas da invenção retórico-poética, amplificando formas e procedimentos da elocução. As poesias satíricas de Gregório são carregadas de hibridismo, na mesma medida em que é construída de citações eruditas, de sentenças irônicas, de descrições hiperbólicas, de agudezas e vilezas de estilo baixo e sórdido.
Constitui-se também de sinédoques e profunda vocação dialógica. O dialogismo é definido como o processo de interação entre textos que ocorre na polifonia; o texto não é visto isoladamente, mas sim correlacionado com outros discursos similares. Este recurso promove um certo dinamismo no texto, possibilitando jogos entre os extremos.
Em "Epílogos", ele retrata a paisagem moral de Salvador, Bahia, nossa capital na época colonial. Mudando a palavra cidade para país, teremos a paisagem moral atual em alguns dos versos do poeta.
TEXTO I