A poesia conforme mario quintana
A poesia conforme Mário Quintana
Ir. Elvo Clemente
PUCRS
Do magnífico volume de Poesia completa, organizado e com prefácio e notas da saudosa e luminar estudiosa Tania Franco Carvalhal, escolhi o livro A vaca e o hipogrifo para o estudo da poesia conforme Mário Quintana (as páginas citadas referem-se a esta edição). Surpreende o título, nome de um animal manso e real e de outro mitológico fantástico, misto de águia e de leão, celeste e terrestre em sua evocação. O que queria Mário na aproximação desses dois seres? Como vai descobrir os mistérios da poesia na aproximação ou afastamento do real tranqüilo e manso e do mitológico agressivo e inconseqüente? Será a ironia ou humor que Mário quer oferecer, ou simplesmente poesia? É interessante esclarecer alguns conceitos ou descrições de poesia, colhidos de D. M. Turoldo: “A poesia é intuição cósmica, fulguração sobre o noumeno das coisas, amor e veneração do fascínio do mundo tentativa de descobrir os segredos que jazem nos seres” (Plouvier, 2002, Presentazione). E Mário escreve em “Poesia e emoção”: “o palavrão é a mais espontânea forma da poesia. Brota do fundo d’alma e maravilhosamente ritmada. [...] Por isso é que não nos toca a poesia feita a frio, de fora para dentro, mas a que nos surge do coração como um grito, seja de amor, de dor, de ódio, espanto ou encantamento” (p. 525). No poema “Germinal” escreve: “Planto / com emoção / este verso em teu coração” (p. 548). Mário Quintana vibra em sua arte poética, razão de ser de sua vida; por isso apresenta com destaque o verso de Lorenzo Stecchetti (1845-1875). “Io sono poeta o sono imbecile”, que soa como programa ideal de existência. É curioso observar como o poeta da
Letras de Hoje. Porto Alegre. v. 41, nº 4, p. 7-11, dezembro, 2006
modernidade busca no romântico italiano o mote de sua razão de ser. Quintana coloca na arte toda a força do ser na revelação no poema “O menino e o