A POESIA BARROCA DE GREG RIO DE MATOS
Reformatado, o pensamento cristão medieval reaparece no Barroco: o equilíbrio do homem medieval se transforma em conflito permanente, representado em jogo de oposições e contrastes.
“E de imediato se depreende que o Homem barroco se debate num conflito oriundo deste duelo entre espírito cristão e espírito secular, que leva a contrições como esta atribuída a Gregório de Matos”, continua Domício, exemplificando
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado
Da vossa piedade me despido,:
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História: Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-me; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
1 – O culto do contraste
Segundo Ronaldes de Melo e Souza, em “As máscaras de Gregório de Mattos” (SOUZA, 2000: 15), através do fingimento, o poeta está sempre em contraste, inclusive consigo mesmo e com os princípios que defende:
Gregório de Mattos se comporta como persona ficta, ostentando várias máscaras, fingindo diversas vozes, representando, enfim, a proliferação indefinida de um ser que não cessa de ser outro. A heterogeneidade radical do poeta se manifesta nas múltiplas vozes (religiosa, erótica, lírica,