A personagem de ficção
O primeiro capítulo do livro, traz como tema “Literatura e personagem”, colocando como ponto principal idéia de que a literatura ficcional se diferencia das outras literaturas porque tem um caráter semelhante a realidade empírica. O autor classifica a obra com três problemas principais. O problema ontológico: a obra literária surge a partir de contextos objecturais que torna seres e mundo intencionais em realidade, através da imaginação do leitor. A diferenciação lógica entre obra literária e não literária está no fato de que a obra literária não tem objetivo, sua realidade não é empírica, mas é uma realidade possível, de mundo imaginário cercado de personagens fictícios e o leitor é o parceiro lúdico do jogo imaginativo; para o problema epistemológico, é a personagem a principal responsável pela ficção da obra literária, e através da personagem, a camada imaginária se cristaliza, é a personagem que dá aparência real à situação imaginária, colocando o leitor dentro do mundo imaginário.
O autor constrói um paralelo entre pessoas reais e fictícias, mostrando que a visão que temos de ser humano é sempre fragmentada e limitada, trazendo às personagens uma projeção de visão de mundo ainda mais fragmentada e, então, o ser humano como personagem, é um ser configurado esquematicamente, física e psiquicamente. A personagem tem maior coerência que o ser real, maior exemplaridade e assim maior significação. Na ficção, os seres humanos se tornam mais transparentes e consistentes, pois são intencionais e autônomos.
Para o autor, é a estética que determina o reconhecimento da obra e sua valorização de importância primordial à obra literária. O valor estético surge com a possibilidade de transpor aos fatos narrados uma aparência sensível, de maneira emocional através de um contexto lúdico. Quando se acentua o valor estético da obra, o mundo imaginário se enriquece e se aprofunda. Isso acontece