A perda da Preciosidade - Um olhar sobre Clarice Lispector
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
São Paulo
Dezembro/2010
A perda da “Preciosidade” – um olhar sobre Clarice Lispector
O conto “Preciosidade”, de Laços de Família, começa se inserindo no contexto geral do livro, tratando da problemática psicológica feminina e de sua ambiguidade, que dessa vez está representada pela adolescente que protagoniza o conto. Solitária, magra, feia e sem vaidade aparente, a garota se insere em um embate da passagem do mundo infantil ao mundo adulto, dos seus medos e anseios pelo mundo das ruas. A garota vai esconder atrás de uma máscara indecifrável até mesmo para seus companheiros de colégio, a sua curiosidade, o desabrochar de sua feminilidade (que permanece na narrativa como um segredo que todos no fundo sabiam, mas não se podia revelar), essa máscara de castidade, de tradição, de disciplina de soldado servirá para protegê-la da sua própria descoberta de si, servirá assim a repreensão, a ordenação desesperada das coisas. O conto será tomado por ambiguidades, medos e guiado pelos sentidos, o que começa a se manifestar logo no início com as sensações de devagar, vastidão, nebulosidade, em seguida, a rua “algodoada”, o que evoca de certa forma a preciosidade até então delicada, protegida, incontaminada. A ideia de “preciosidade” corresponde à virgindade da menina, à sua ainda presente visão infantil, à inocência. O conto seguirá, assim como outras obras de Clarice, especialmente as inseridas no livro em questão, a passagem de um lugar comum, rotineiro, familiar, que é por si só desconfortável, para uma descoberta, uma tomada de consciência de si (as epifanias claricianas) e por fim, a volta mais desconfortável, mas ao mesmo tempo acomodadora para o lugar-comum de sempre. A evocação da nascente sexualidade da menina começa em seu quarto, ao acordar em mais um dia para ir à escola com “o vento da manhã violentando a janela e o rosto até que