A odisseia
Analise Linguistica
O texto de Homero materializa através da linguagem as primeiras tentativas do homem grego em dominar o mundo pela razão. Ou, nessa esteira, esteja nascendo no poeta a consciência que só se revelará plena muitos séculos depois de que a palavra sendo intermediária entre o ocorrido e o narrado também pode construir universos tanto quando o universo empírico. Novamente me reporto aqui ao episódio das sereias contado pelo próprio Ulisses no Canto XII. Primeiro,pensemos na atitude individualista do herói em somente ele ter acesso ao canto das sereias com marco de uso da razão sobre o mito. A simples premissa de que estariam aí prenúncios do mito como algo falso talvez seja vã. Depois, pensemos novamente como que o fato é narrado na Odisseia. É narrado não somente pelo poeta, mas pela personagem, como que, também numa leitura ingênua,Homero buscasse se eximir do fato de não está sendo fiel à empiria. Volto às duas questões adianteporque quero fazer um curto parêntese aqui. A necessidade do poema pela precisão do acontecido ou como que determinado fato surge no correr da progressão textual marca uma justeza da palavra às coisas que se perde no instante de interferência consciente do mito. O marco de uso razão sobre o mito, como notado na ideia de Ulisses em ser amarrado ao mastro do navio para escutar o canto das sereias sem sucumbir a eles, não é matéria suficiente para se leia a associação mito-mentira. Afinal o que é o mito senão um fato acontecido, portanto fortemente ligado a um passado perdido, e que busca uma explicação, até certo ponto, racional sobre a ordem das coisas no mundo. Essa constatação é suficiente para entendermos que a pretensa negação do mito em detrimento da narração ficcional se dá por uma necessidade de presentificação da realidade. Isto é, está em ação um procedimento que visa quebrar essa relação distanciada assumida entre o ouvinte e matéria narrada, ou uma tentativa de apreensão do presente em lugar do