A Obra de António Ferreira

António Ferreira (1528-1569) é descendente de uma família da velha nobreza de Leiria. Passa uma parte da sua adolescência em Lisboa e aí morre de peste. Com quinze anos, vai estudar para a Universidade de Coimbra e, em 1555, obtém a licenciatura em Direito Canónico e o título de Doutor, menção que figurará em diversos frontispícios das suas obras. António Ferreira frequentou a Universidade no auge da influência do humanismo italiano, aquando da realização de traduções e edições da comédia latina e representações escolares destas mesmas obras. Em 1556, volta para Lisboa, onde conhece Sá de Miranda, entre outros humanistas. No ano seguinte, casa-se com Maria Pimentel, de quem fica viúvo três anos depois. Casa-se, em seguida, com Maria Leite, de quem tem um filho. Durante os dois últimos anos da sua vida breve exerce o cargo de desembargador da Casa do Cível em Lisboa. A obra de Ferreira foi compilada pelo autor num volume editado por seu filho, Miguel Leite Ferreira, em 1598, e intitulado Poemas Lusitanos. Todas as composições deste volume – sonetos, odes, elegias, éclogas, epitalâmios, cartas, epigramas, epitáfios e uma história de Santa Comba dos Vales, assim como as comédias e a tragédia Castro – são afeiçoadas pelos moldes italianos, latinos e gregos. A Comédia de Fanchono ou de Bristo, escrita em prosa durante as férias de 1552, é a sua primeira obra, a única editada em sua vida. Foi dedicada ao príncipe D. João, filho de D. João III, e representada na Universidade de Coimbra. A Comédia do Cioso foi escrita na mesma cidade, entre 1552 e 1556, e a tragédia Castro, a sua obra-prima, pertence ao mesmo período. As cartas e odes de Ferreira dirigem-se a uma roda de personagens constituída por poetas, como Pêro de Andrade Caminha, Diogo Bernardes, Sá de Miranda, Francisco de Sá e Meneses, e por figuras de relevo social, como o duque de Aveiro, o padre Luís Gonçalves da Câmara, D. Francisco Coutinho, D. Constantino de Bragança, o infante D. Duarte,