a neutralidade da ciência é um mito?
PARA INSPIRAR CONFIANÇA: CONSIDERAÇÕES
SOBRE A FORMAÇÃO MORAL EM KANT
Mário Nogueira de Oliveira1
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RESUMO: Este artigo trata da formação moral do homem segundo Kant. Para ele,
“o homem, afetado por tantas inclinações, é na verdade capaz de conceber a idéia de uma razão pura prática, mas não é tão facilmente dotado da força necessária para a tornar eficaz in concreto no seu comportamento”. Deste modo, para implementar nossas máximas de comportamento Kant elabora seu estudo sobre a formação do homem para levá-lo a uma vida livre e moral.
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PALAVRAS-CHAVE: formação moral; ética kantiana; caráter.
O argumento de que os últimos escritos de Kant são frutos de um período de senilidade, junto à grande repercussão das obras anteriores à década de 1780, quase nos limitou a uma interpretação do pensamento ético de
Kant em que estudos sobre antropologia, psicologia, biologia, história, educação ou qualquer outro de cunho empírico contribuíam pouco nos trabalhos sobre a aplicabilidade de sua ética. Textos de Kant que abordam questões acerca da natureza humana ou da história trazem para o debate da filosofia moral os dados empíricos que muitos dos seus seguidores excluíam, ao mesmo tempo em que alguns críticos lhe censuravam a ausência. Neste estudo mostramos como a questão da formação moral, tal como apresentada por Kant, reúne todos estes elementos em uma ética aplicável.
Em anos muito recentes contamos com alguns trabalhos que abordam a história, a antropologia e a pedagogia como constituintes de uma com-
1 Professor Adjunto do Instituto de Filosofia, Artes e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP).
Trans/Form/Ação, São Paulo, 29(1): 69-77, 2006
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preensão mais ampla da ética kantiana, apontando aí já os temas da formação moral e do caráter (cf. Munzel, 1999; Louden, 2000; Banham, 2003;
Wood, 1999). Grande parte