A Música e a Mudança.
A evolução da música como espelho de evolução da sociedade.
Começaremos com a pergunta: o que é Arte? Traduzimos essa palavra do conceito grego de téchne, que, ao contrário do que pensa o senso comum, não se trata da realização de um artista, nem de uma produção compromissada com o estético ou possui, necessariamente, um valor de genialidade intrínseco, que nos acostumamos a atribuir atualmente à Arte. Antes, tal conceito — a téchne — é uma atividade humana fundamentada no "saber fazer". Aquele que, digamos, tem uma Arte, que é um artista, detém um saber que o orienta ao produzir; e tal produção está ligada com a realidade vivida pelo artista. Cada obra de arte genuína precisa levar em conta e retratar, simultaneamente, os fatores temporais e espaciais — seja no passado, presente ou futuro — da realidade humana na obra em questão. Isso nos põe a pensar: a música é uma Arte?
Aristóteles, grande filósofo grego, deixou registrado em uma de suas obras seu pensamento sobre a arte musical, encontrada no seguinte fragmento de seu texto Poética:
O ofício do poeta [músico] não é descrever coisa acontecida ou ocorrência de fatos. Mas isso quando acontece, é segundo as leis da verossimilhança e da necessidade. [...] A diferença entre historiador e poeta [músico] é a de que o primeiro descreve fatos acontecidos e o segundo, fatos que podem acontecer. Por isso que a poesia [música] é mais elevada e filosófica que a história; a poesia [música] tende mais a representar o universal; a história, o particular. A idéia de universal é ter um indivíduo de determinada natureza, em correspondência às leis da verossimilhança e da necessidade. (Observações e grifos acrescidos pelo autor)
Apropriando-se da definição de Aristóteles, ao dizer que a música, quando retrata a realidade, é segundo as leis da verossimilhança e da necessidade, assumimos que ela descreve fatos que devem acontecer, baseando isso numa visão coerente com a realidade e necessidade desses