A multidão e o indivíduo
Sunamita Porte da Rosa
Não entendo o que leva as pessoas à necessidade de questionar aos outros, á necessidade de atropelar qualquer profunda ou superficial observação visual. Nós falamos o tempo todo, dizemos muita coisa, palavras postas ao vento como poeira que se espalha e não se junta mais, nem da mesma forma, nem do mesmo jeito. É como uma opinião que não pode ser pragmatisada o tempo todo, ela irá mudar dependendo das palavras que usemos ou do contexto e circunstância em que as dizenmos. O que nos leva crer que o que uma pessoa diz é o que realmente é? A resposta dessa pessoa pode ser uma versão do real adequada a sociedade ou a quem perguntar. Então por que não podemos simplismente observar e questionar a nós mesmos sobre o que vemos? Ao menos teremos uma resposta sincera. O ato de obeservar é tecer uma interpetação do que estamos vendo e relacionar isto com o que já vimos, com as nossas "verdades". Mas quando obeservamos as outras pessoas, parece que nos esquecemos de nós, pois o que está em julgamento é apenas o objeto obeservado. O objeto observado não precisa ser unitário. Pode ser uma pessoa, uma multidão que em sentido comum representa uma reunião de indivíduos quaisquer, independentemente de sua nacionalidade, sua profissão ou seu sexo, independentemente também dos acasos que os aproximam; um espaço; uma situação. Tudo irá depender do foco que disperta essa observação. E a observação releva o momento em que nos encontramos e a sensibilidade que apresentamos. A observação nasce daquilo que se apresenta diferente a nós e desperta nossa curiosidade. Quando observamos a multidão, não temos um motivo específico e explícito para isso. É apenas um olhar superficial no horizonte de pessoas, onde juntamos porções semelhantes de estilos, opiniões, classe social, sexo. Do ponto de vista psicológico, a expressão multidão adquire um significado específico: o grupo possui características distintas do individuo