A MORTE LUZ DOS CAMPONESES E SERVOS
Durante a Idade Média, a compreensão da morte esteve diretamente associada às ideias e concepções promulgadas pela Igreja Católica, que exercia uma forte influência sob a estrutura, organização e dinâmica da sociedade, bem no ideário da grande maioria da população.
No que se refere à morte entre os camponeses e servos, havia certa conformidade e ela era tida como algo usual ao cotidiano, devendo ser celebrada por meio de uma cerimônia pública e simples. Cabia ao próprio moribundo a responsabilidade de realizar seu ritual final ao pressentir a chegada de sua morte, que consistia em despedir-se e quando necessário reconciliar-se com a família e com os amigos, além de expor suas últimas vontades e assim ficaria na esperança pelo juízo final. O moribundo deveria ficar deitado de costas porque assim seu rosto estaria voltado para o céu (ARIÈS, 1989: 22).
Em virtude dessa concepção, o ato de morrer em segredo, sozinho, de forma súbita e repentina era tida como um castigo divino e algo detestável, uma vez que tornaria impossível a realização do processo do ritual. Os defuntos oriundos da classe menos favorecida eram enterrados somente com sudários em grandes valas, não havendo o uso de caixão e outros objetos como lápides, típicos dos rituais fúnebres da nobreza.
O cemitério e a igreja se confundiam, uma vez que os mortos eram enterrados tanto no interior das igrejas (ricos) quanto no seu pátio (pobres). Está prática está ligada à ideia de que uma vez enterrados perto dos santos e mártires estes guardariam os mortos enterrados ao seu derredor protegendo-os do inferno. É importante salientar que embora a igreja e o cemitério estivessem interligados, ambos não deixaram de serem lugares públicos, nos quais ocorriam encontros e reuniões, de forma que vivos e mortos conviviam em locais comuns. (ARIÉS, 1989)