A Morte da Luz
A MORTE DA LUZ
Tradução Marcia Blasques
LeYa
2012
Prólogo
Um planeta errante, um viajante sem objetivo, um pária da criação; esse mundo era todas essas coisas.
Havia incontáveis séculos ele seguia, sozinho, sem propósito, entre os frios e solitários espaços entre os sóis. Gerações de estrelas haviam sucedido umas às outras em imponentes enxames que preenchiam seu céu desolado. Ele não pertencia a ninguém. Era um mundo em si mesmo, inteiro. Em certo sentido, não era nem mesmo parte da galáxia; seu percurso irregular atravessava o plano galáctico como um prego introduzido em uma mesa de madeira redonda. Não fazia parte de nada.
E o nada estava bem perto. Na aurora da história humana, o planeta errante perfurou uma cortina de poeira interestelar que cobria uma área minúscula perto da borda superior das grandes lentes da galáxia. Um punhado de estrelas estava além - trinta ou quase isso, um mero punhado. Em seguida, o vazio, uma noite maior do que qualquer mundo errante já conhecera. Ali, passando por aquela sombria região de fronteira, ele se deparou com os povos devastados.
Os Imperiais da Terra o encontraram primeiro, no auge de sua vertiginosa embriaguez expansionista, quando o Império Federal da Antiga Terra ainda estava tentando governar todos os mundos povoados pelo homem através de abismos imensos e impossíveis. Um bombardeio chamado Mao Tse-tung, avariado durante uma incursão contra os hranganos, com a tripulação morta em seus postos, os motores ligando e desligando alternadamente, tornou-se a primeira nave do reino humano a seguir à deriva para além do Véu do Tentador. O Mao era uma nave abandona da, sem ar e cheia de cadáveres grotescos que tombavam sem rumo pelos corredores e esbarravam nos anteparos a cada século; mas os computadores ainda funcionavam e cumpriam obstinadamente seus rituais, esquadrinhando bem o bastante para notar o planeta errante em seus gráficos quando a nave-fantasma passou a poucos