A mentalidade medieval
Ao estudarmos em detalhe alguns dos aspectos da vida cotidiana medieval, parece-nos conveniente chamar a atenção do leitor para alguns dos traços mais característicos do que poderíamos chamar “mentalidade medieval”.
Sobre alguns aspectos da vida medieval, particularmente nos séculos XIII e XIV, chamamos a atenção para a vitalidade, o equilíbrio e a magnífica civilização que caracterizam essa época, civilização essa encarnada em obras-primas e que produziu grandes homens de rara qualidade humana, que venerava como seus modelos: um São Luís; um São Francisco de Assis... O que poderíamos apontar como o primeiro traço característico da mentalidade medieval: a impregnação religiosa que não está necessariamente associada ao clericalismo e dá à alma uma singular liberdade em face de um mundo transitório que lhe compete dominar.
Sobre a religiosidade medieval é característico da religiosidade medieval que seus ideais espirituais encontraram expressão em um organismo sociológico definido. A vida espiritual não era uma aspiração vaga nem uma idéia abstrata. Era uma vida no pleno sentido da palavra, um modelo organizado de conduta, personificada em distintas formas institucionais e possuidora de uma existência econômica autônoma que a tornava, ao menos potencialmente, independente do mutável ambiente social que a rodeava.
Estudando especialmente a mentalidade medieval, apresentamos o senso prático como um de seus traços mais característicos: nossos antepassados medievais parecem não ter tido outro critério senão o da utilidade. Na arquitetura, na arte, no quadro da vida cotidiana, não propiciam lugar ao ornamento, ignoram a arte pela arte. Se uma goteira se transforma para eles em gárgula, é porque sua imaginação intensa permanece sem cessar desperta e aproveita tudo o que os sentidos lhe revelam, mas não teriam tido a idéia de esculpir gárgulas que não desempenhassem o papel de goteiras, como não teriam sonhado em desenhar jardins unicamente para o