A medição da produção científica na segunda metade do século XX
Marcia J. Bossy1
Ivan da Costa Marques2
Os instrumentos são, com freqüência, histórias recontadas, que invertem e deslocam os dualismos hierárquicos de identidades naturalizadas.
Donna Haraway, “The Cyborg Manifesto.”
Desde os anos ´90 professores-pesquisadores brasileiros de algumas áreas têm sido confrontados com um número que afeta suas vidas e carreiras: o indicador de produção bibliográfica. “Indicador” neste caso, é um termo usado para significar: quantidade de artigos publicados em periódicos ditos indexados, “indexados” significando “indexados no Science Citation Index ou Web of Science”.
Os resultados parciais de nossa pesquisa em andamento indicam, por um lado, que é cada vez mais aceita entre os professores-pesquisadores a idéia de que seu trabalho deva ser avaliado por gestores da produção do conhecimento científico-tecnológico: MEC, MCT, CAPES, CNPq, FAPs, reitorias, diretorias e coordenações das próprias escolas que abrigam programas de pós-graduação. Por outro lado constatamos que a adoção deste “indicador” como medida de produtividade é também vista por parte dos pesquisadores como a introdução de um corpo estranho em suas vidas profissionais, pois passam a ter que se preocupar com classificação de revistas indexadas e contagem do número de citações, provocando deslocamentos em objetivos e diretrizes de suas carreiras.
Aqui fizemos o recorte de uma parte mais propriamente histórica de nossa pesquisa. Restringimos nosso propósito a acompanhar a construção deste “indicador”, historicizando-o, ou seja, construindo a história de sua trajetória desde o pós-guerra até a chegada ao Brasil nos anos ’90 como que pronto, como que surgido da “natureza”, deixando aos professores-pesquisadores brasileiros, segundo suas queixas, pouca margem de manobra para negociar aspectos cruciais de suas carreiras profissionais e mesmo de suas vidas.
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