A massai branca
Maria Cristina Ribas
– Para mim os espelhos são diferentes, felizmente, pois assim não me afogo como o infeliz Narciso... Eugen Bacar 1 “But was Narcissus beautiful?” said the pool. “Who should know that better than you?” answered the Oreads. “Us did he ever pass by, but you sought for, and would lie on your banks and looked down at me, in the mirror his own beauty.” And the pool answered, “But I loved Narcissus because, as he lay on my banks and looked down at me, in the mirror of his eyes I saw ever my own beauty mirrored.” Oscar WiIde 2 Porque estamos certos de que a visão depende de nós e se origina em nossos olhos, expondo nosso interior ao exterior, falamos em janelas da alma./.../Porém, porque estamos igualmente certos de que a visão se origina lá nas coisas, delas depende, nascendo do “teatro do mundo”, as janelas da alma são também espelhos do mundo. Marilena Chaui 3
o dia 9 de setembro de 2002 tivemos a oportunidade de assistir a uma preciosidade. 4 O filme Janela da Alma, de João Jardim e Walter Carvalho – um dos grandes fotógrafos da atualidade – que declarou, “ao vivo e a cores”, o seu desejo de fazer um documentário sobre a miopia. E a descoberta de que havia feito um filme sobre o Olhar. Conforme relatou Walter Carvalho, ao pensar no roteiro a pergunta inicial era: que tipo de personalidade os entrevistados – escritores, cineastas, fotógrafos – tinham formado na vida, a partir dessa miopia, dessa necessidade de enxer-
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ALCEU - v.3 - n.6 - p. 65 a 78 - jan./jul. 2003
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gar com óculos? Mobilizado por esta curiosidade inicial, juntamente com a sua própria experiência “míope”, voltou-se para fazer um ensaio – não sobre a cegueira, mas sobre a capacidade de enxergar com a miopia, com as possibilidades enriquecedoras de uma modalidade tida habitualmente como obstáculo. Ou como entendemos: pelos depoimentos, a surpresa é perceber que a deficiência tem sido vivida