A LTIMA UTOPIA B BLICA
ESCATOLÓGICA
Neilton Azevedo1
“É preciso sonhar sempre e recomeçar indefinidamente a mesma projeção para um futuro vislumbrado utopicamente” (José Comblin)
“A utopia cristã começa de forma insólita, quando um homem se anuncia como filho de Deus” (José Tolentino Mendonça)1
Talvez seja difícil de admitir, mas a Bíblia é essencialmente um livro de utopias. Sei muito bem os riscos que corro, pois o simples fato de dizer que alguma coisa na Bíblia é utopia soa como heresia, apostasia e desvio doutrinário. A dificuldade de admitir isso está no conceito que temos sobre o que seja utopia. Para os cristãos, utopia significa mentira, quimera, algo irrealizável, delírio, fantasia, lugar inexistente, portanto uma falsa promessa.
O Dicionário Houaiss define utopia como: “qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade” Nesse sentido, perguntase: existe livro mais utópico que a Bíblia?
Em seu livro "A utopia" Thomas Morus cria um mundo simples e igualitário. Uma criação imaginária de um mundo ideal que descreve realidade não como ela é e sim como deveria ser.
Aprendemos desde cedo a ver a utopia como algo inatingível, distante e irrealizável, ilusão sonho irrealizável. Nada pode ser mais falso do que isso. Na lúcida opinião de Pedrinho
Guareschi, a utopia deve ser vista como uma realidade ainda não conquistada, diz ele que é a
“Esperança de que aquilo que não é, não existe agora, pode vir a ser, tornando realidade presente aquilo que precisa acontecer”2
Outro problema que limita o nosso horizonte hermenêutico é o fato de lermos a literatura bíblica sem considerar o gênero. Dessa forma lemos literatura apocalíptica como se fosse profecia; esperança escatológica como promessa e teologia como se fosse história.
Assim, temos dificuldades em entender determinados textos. Embora não seja possível