A LINGUAGEM EMBRIAGANTE EM MADAME EDWARDA E A RELAÇÃO COM A ARTE.

1605 palavras 7 páginas
A LINGUAGEM EMBRIAGANTE EM MADAME EDWARDA E A RELAÇÃO COM A ARTE.
Marcia de Mesquita Araújo

Madame Edwarda é um conto ambientado, em sua maior parte, em um bordel, em que uma prostituta é escolhida por um homem, e a partir daí a narrativa vai se desenvolvendo em diálogos e pensamentos que nos permitem fazer algumas reflexões.
A experiência da leitura de Madame Edwarda seduz, embriaga, entontece, pois não aponta para um caminho único, um sentido uno, mas para um labirinto de Dédalo do qual podemos perceber elementos diversos em um texto entrecortado, inusual, sem uma progressão comum, incongruente, numa atmosfera meio bêbada do texto, quase surreal.
O título da narrativa sugere tratar de uma madame, que poderia ser uma senhora, patroa ou consorte, dama da sociedade burguesa -- seria uma ironia? Mas no transcorrer do texto, Edwarda é uma prostituta, personagem marginal, sujeita aos signos comumente associados a ela, e ao mesmo tempo, como qualquer criação de cultura aberta a variações dessa significação, Edwarda ecoa, transborda, parece ser o próprio excesso, a divindade humana que transgride as regras, que parece carregar consigo uma carga de subversão e marginalidade.
Uma prostituta é, talvez, aquilo que há de mais estereotipado socialmente falando, como um clichê da degradação, como um dizer que só diz “degradação”, e, no entanto, no texto, ela também é uma madame, ela oferece novos significados para si e ao narrador; entre seus gestos e palavras ordinários e extraordinários Edwarda faz vislumbrar o inacessível.
A angústia, soberana e absoluta, suja e embriagante, leva o narrador-personagem às ruas. Em sua companhia a solidão e a obscuridade, e entre uma sensação de liberdade e inquietude se depara com Edwarda nua, numa esquina, entre tantas outras mulheres. Escolhida por seu discurso que nasce das sensações estonteantes de sua beleza, de suas curvas, de sua nudez completa, na experiência da presença do obscuro que nasce da ausência da palavra.
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