A LIBERDADE
A liberdade como problema
Falam os poetas:
A torneira seca
(mas pior: a falta de sede)
A luz apagada
(mas pior: o gosto do escuro)
A porta fechada
(mas pior: a chave por dentro)
O poema de José Paulo Paes dá início às reflexões concernentes a liberdade pertinente no texto de Marilena Chauí, ao utilizar termos que contrapõe a situação externa e a inércia resignada do sujeito. A expressão “mas pior” utilizada no poema, deixa evidente a renúncia do sujeito em enfrentar as circunstâncias advindas, tornando-se cúmplice delas. O não agir é presença marcante nesse poema. Tal introdução, permite-nos correlacionar tais resignações e omissões à questão da liberdade, onde a renúncia também está imbricada.
Nesse sentido, muitas vezes a falta de decisão ilude o sujeito em isentar-se de determinada situação, quando na verdade apenas aliena-se de sua própria liberdade. Falta de sede, gosto do escuro e chave por dentro.
Todavia, o poema de Carlos Drummond de Andrade diverge do poema de Paes, visto que coloca o sujeito numa situação de decisão, autonomia e poder para inventar a sua realidade. Abre a torneira, acende a luz e gira a chave.
Nessa perspectiva, o texto de Marilena Chauí expõe a liberdade e suas circunstâncias, apresentando a liberdade como problema, que subdivide-se em dois pares: Necessidade e Contingência.
A liberdade como questão filosófica
Filosoficamente, a questão da liberdade se apresenta na forma de dois pares de opostos:
1. O par necessidade-liberdade
2. O par contingência-liberdade
O primeiro par infere que não há lugar para a liberdade porque o curso das coisas já está fixado. Ou seja, a história de nossas vidas já está escrita e bordada. A realidade existe em si e por si. Por exemplo: como um sujeito se diz livre e responsável se nasceu numa dada época, num determinado país, com uma determinada cor, corpo e sexo numa sociedade já “constituída”?
O segundo par significa que não há lugar para a liberdade,