A legitimidade do inconsciente
16/12/2012 01h38
Entrevista de Jorge Forbes para a Coleção Guias da Psicanálise - Vol.2: Freud (dezembro 2012). O pensamento freudiano no Brasil.
- O que restou da psicanálise freudiana nos dias atuais?
Restou a essência da descoberta de Freud, o que o faz eterno. Restou a legitimidade do inconsciente, ou seja, que não há possibilidade de controle racional completo de nossas ações, que uma dose de aposta está presente em qualquer decisão, enfim, que a vida é contrato de risco, marcada pelo desejo.
- Quais os reflexos e influências dela no Brasil?
O brasileiro é alguém que ama o inconsciente, que sabe - quase intuitivamente - que as ações humanas não cabem em protocolos prêt-à-porter. Uma das expressões dessa intuição é o muito criticado “jeitinho brasileiro”, hoje exaltado por pessoas como De Masi, que vê nessa qualidade brasileira um especial saber fazer com o inconsciente. No Brasil, a razão sensível ganha da razão asséptica, motivo pelo qual entendo que o nosso país está em momento de contribuir fundamentalmente para a psicanálise do século XXI. E isto já se verifica.
- A que ponto Freud influenciou a maneira de pensar ocidental?
Freud influenciou a maneira de pensar ocidental, a ponto de o elegermos um dos pais da razão, sintetizado na expressão: “Freud explica”.
- Por que sempre existiu e existe ainda hoje uma grande resistência à psicanálise?
A resistência não é bem à psicanálise, que, reconheçamos, é bem menos conhecida do que aquilo que dela se propaga. A resistência é ao que a psicanálise trata e legitima: o desejo, o amor, o gozo, a ambição, o ódio, enfim, as paixões humanas que assustam uma vasta maioria de pessoas que nelas veem um risco para suas tranquilidades acomodadas.
- Qual a diferença entre psicanálise e as outras formas de terapia e em quais casos ela é recomendada?
Não há contra indicações para a psicanálise, ela é sempre bem indicada para as pessoas que se embrulham com o seu gozo singular, com o