A Janela de Lygia Fagundes Telles
PERSONAGENS:
Homem: 55 anos, melancólico.
Mulher: Prostituta, cerca de 25 anos.
Enfermeiro:Pacifico.
Três mulheres: Prostitutas, todas com mais de 30 anos, um pouco caricatas.Estabanadas e barulhentas.
Narrador: A mulher estendeu-lhe a mão e sorriu. O homem pareceu não ter notado o gesto. Ficou imóvel no meio do quarto, os braços caídos ao longo do corpo e o olhar fixo na janela.
Homem: — Havia ali uma roseira.
Narrador: Lentamente ela amarrou na cintura o cinto do penhoar de seda japonesa.
Examinou mais atenta o homem alto e magro, um pouco arcado, de cabelos grisalhos com reflexos de prata.
Mulher : — Que roseira?
Homem: — Uma roseira — (disse ele num tom velado, vagando o olhar pelo quarto.) —
Certa vez, deu mais de cem rosas. Umas rosas enormes, vermelhas...
Mulher : — Como é que o senhor sabe?
Homem: — Meu filho morreu neste quarto.
Narrador: Ela sentou-se na beirada da cama. O riso foi-se desfazendo nos lábios grossos e mal pintados.
Mulher : — Seu filho?!
Homem: — Este era o quarto dele (Tom baixo e triste)
— Exatamente onde está sua cama ficava a cama dele.
Narrador: Ela descruzou as pernas e lançou um olhar constrangido para a cama coberta de almofadas coloridas. Sorrindo sem vontade disse.
Mulher : — Imagine... Isso faz muito tempo?
Homem: — Não sei.
Narrador: Encarou-o. Estendendo-lhe o maço de cigarro.
Mulher : — Está servido?
Homem: — Não fumo.
Mulher : — Faz bem. Dizem que fumo dá aquela doença que nem gosto de falar...
Queria ver se deixava, mas quando deixo engordo que nem louca — (lamentou)
Narrador: — A gola do penhoar abriu-se no peito. Ela fechou a gola frouxamente, de maneira que voltasse a se abrir de novo. Mulher : — O senhor... você não quer se sentar?
Narrador: — convidou, indicando a pequena cadeira vermelha ao lado da mesa de toalete. Mulher : — Fique à vontade, meu bem.
Narrador: Ele sentou-se, encolhendo as longas pernas para não tocar nas da mulher. Entrelaçou as mãos. Vestia-se corretamente, mas a roupa parecia