A Internação coerciva e a Reforma Psiquiátrica.
1.1 A internação coerciva como forma de controle social. Ao iniciar a pesquisa bibliográfica e documental que embasa este trabalho de conclusão de curso, a primeira impressão que se tem é que esta prática guarda consigo certa ligação com a crueldade, com a exclusão e porque não dizer com a aniquilação daqueles que Michel Foucault (2008, p. 79), em seu emblemático livro História da Loucura, chama de “a-sociais”, ou seja, grupos de pessoas dentro de uma sociedade desajustadas ao arranjo econômico, social ou político vigente e dominante. Vejamos:
Daí a supor que o sentido do internamento se esgota numa obscura finalidade social que permite ao grupo eliminar os elementos lhe são heterogêneos ou nocivos, há apenas um passo. O internamento seria assim a eliminação espontânea dos “a-sociais”; a era clássica teria neutralizado, com segura eficácia – tanto mais segura quanto cega – aqueles que, não sem hesitação, nem perigo, distribuímos entre prisões, casas de correção, hospitais psiquiátricos ou gabinetes de psicanalistas. (FOUCAULT 2008, p. 79) Foucault (2008) conta que no final da Idade Média (476 d.C à 1453) a lepra desaparecera do mundo ocidental. Durante este período, multiplicaram-se por toda a Europa os leprosários, locais para onde eram levadas coercitivamente as pessoas acometidas de lepra e lá eram abandonadas sob o pretexto de se adquirir a salvação divina por meio da exclusão e resignação. A Idade Moderna (1453 a 1789), período que marca a transição entre o modo de produção feudal para o capitalismo comercial, inaugura uma nova ordem social e econômica, com implicações nos campos científicos, filosóficos, culturais e religioso, ocasionados pelo ressurgimento do comércio e da urbanização e pela ascensão da burguesia como classe social.
Para se ter noção das profundas mudanças na forma de pensar do homem ocorrida durante estes séculos, basta dizer que nesse período floresceram as idéias renascentistas