A INFLUÊNCIA DOUTRINÁRIA FRANCESA SOBRE OS MILITARES BRASILEIROS NOS ANOS DE 1960
SOBRE OS MILITARES BRASILEIROS NOS ANOS
DE 1960
João Roberto Martins Filho
Os estudiosos da história política brasileira entre o final dos anos de 1950 e o final da década de 1970 constantemente se deparam nos textos militares com duas expressões a que não atribuem muita importância: “guerra revolucionária” e “defesa da civilização cristã”. Contudo, esses termos são ricos de significado, uma vez que remetem à matriz do pensamento militar que vigorou durante pelo menos duas décadas e marcou profundamente a visão de mundo de uma geração de oficiais, principalmente do Exército brasileiro. Durante muito tempo a literatura sobre essa fase histórica concentrou-se na chamada Doutrina da Segurança Nacional, elaborada pela Escola Superior de Guerra
(ESG), a partir de finais dos anos de 1940. A essa doutrina atribui-se forte influência norte-americana. Em contraste, a doutrina francesa da guerre révolutionnaire, introduzida na ESG em 1959, não foi até hoje analisada em profundidade.1
Artigo recebido em abril/2007
Aprovado em abril/2008
Comblin e o poder militar na América Latina
O exemplo mais acabado de tal concepção é o livro do padre e professor de teologia em Harvard, Joseph Comblin – A ideologia da segurança nacional, publicado originalmente em francês, em 1977
(Comblin, 1980). Destinado a ter grande influência sobre a literatura relativa às ditaduras militares do
Cone Sul, o texto é uma narrativa que acaba por simplificar em demasia a questão dos influxos doutrinários que alimentaram os golpes militares dos anos de 1960 e 1970.
Sua tese central é simples: “É incontestável” que a doutrina que inspirou os golpes militares “vem diretamente dos Estados Unidos. É nos Estados
Unidos que os oficiais dos exércitos aliados aos
EUA aprendem-na” (Idem, p. 14). No decorrer do livro, fica claro que para Comblin o processo histórico de construção da mentalidade ditatorial é elementar. Segundo ele, os chefes