A inconstância da alma selvagem
Inicialmente, o texto nos apresenta uma reflexão bastante relevante quanto ao problema da descrença encontrada em nossas terras no século XVI, Antônio Vieira aduz em sua metáfora, como muita categoria, sobre esse assunto, quando se refere a dois tipos diferentes de estátuas, uma que custa muito a se fazer, pela dureza e resistência da matéria, que são as estátuas de mármore, mas depois de feitas, não é mais necessário que lhe deem mais forma, pois sempre se conservam e se sustentam com a mesma figura. E por outro lado, temos as fáceis de formar, pela facilidade com que se dobram seus ramos, pois estas são as feitas de murta, e ao contrário das primeiras, necessitam de uma constante reformulação, dedicação e trabalho para que se possam conservar.
Assim, de acordo com o exposto, vemos a diferença entre nações que naturalmente são duras e constantes, as quais dificultosamente recebem a fé e deixam os erros dos seus antepassados, essas resistem com armas, duvidam com o entendimento, dão trabalho até serem convencidas do contrário, mas uma vez convencidas, rendidas, uma vez que passam a aceitar a fé, ficam firmes e constantes, como uma estátua de mármore. E temos as nações como a brasileira, que recebem tudo o que lhe são imposto, tudo o que lhe ensinam com muita facilidade, sem argumentar, sem replicar, sem resistir, mas que por isso mostram-se como um grande problema, pois ao serem abandonadas de cuidados voltam a ser como eram antes, brutas e naturais como uma estátua de murta.
Por essa razão, salienta, ainda, Vieira em seu sermão, que assim sendo estas últimas estátuas, necessitam que lhe olhem sempre, que lhe fechem os olhos, para que creiam no que não veem que lhe tampem as orelhas, para que não deem ouvidos aos seus antepassados. E só desta maneira, trabalhando contra a sua natureza, pode-se conservar nestas plantas rudes a forma não natural, e compostura dos ramos. Destacando, assim, um processo bastante trabalhado