A Iminente morte da mãe exige maturidade
Ainda bebês criamos um laço de dependência materna. Somos frágeis, completamente incapazes e carentes de tudo e em tudo. A mãe é o nosso deus e, de certa forma, ela é nós mesmos. Tudo que conhecemos de nós é que precisamos dela para permanecermos vivos.
Qualquer relação de dependência é opressiva e a opressão é sempre angustiante porque experimentamos o medo de não ter o outro. Para um recém nascido acordar sem a mãe é sempre desesperador, é a concretização do seu medo de abandono, é constatar que ele próprio não existe.
A criança cresce rapidamente fazendo com que a dependência se torne exígua nela, porque, ao mesmo tempo, ela experimenta a satisfação e a realização junto à mãe e esse amor ofusca a opressão dentro de si. Contudo nós, naturalmente, nos afastamos daquilo que nos oprime, e, como esse aperto não é experimentado durante o dia, ele se manifesta à noite, durante o sono e por isso é comum a criança acordar de madrugada chorando após ter sonhado que a mãe havia morrido.
Quando já adultos experimentamos o mesmo desespero de perder a mãe quando ela esta acometida por uma doença, sobretudo terminal. A morte é um abandono, é um furto da própria personalidade e a vida impõe ao filho um dilema: De um lado o amor pela mãe, o desejo de ficar ao seu lado, de aproveitar cada momento, a necessidade de continuar existindo, do outro lado o ódio por ela te deixar, a necessidade de se afastar daquilo que traz o abandono iminente, o furto do seu eu e, diferentemente do que foi na infância, em ambas as circunstâncias, o sentimento é extremamente opressor e angustiante.
Essa é a maior dor para um filho, talvez seja uma dor maior que a própria morte da mãe e também o maior teste, uma oportunidade de mostrar que ele não é mais aquele bebê que apertava com força o dedo da mãe, nem a criança que acordava chorando pela madrugada, de provar que amadureceu e que já aprendeu a viver só.
Feliz dia das mães!
Samuel