A imigração brasileira no exterior
HELION PÓVOA NETO
O significado da emigração
FENÔMENO RECENTE da emigração de brasileiros representa uma descontinuidade histórica num país formado por expressivos fluxos imigratórios, perceptíveis até os anos 1960. Hoje, o Brasil contribui decisivasivamente para a imigração latino-americana nos Estados Unidos, em determinados países europeus (Portugal, Espanha, Itália) e no Japão. Digna de nota é também a mobilidade rumo a países fronteiriços, em especial o Paraguai, mas também Bolívia, Suriname e Guiana Francesa.
Do ponto de vista demográfico, bastaria um saldo migratório negativo para caracterizar uma situação de emigração.1 Porém, o que nos parece digno de ênfase – e merecedor das observações a seguir – é o significado político e cultural desse fato numa nação, por assim dizer, “acostumada” a se pensar como terra de oportunidades, formada com a contribuição do trabalho de estrangeiros.
A classificação de um país como “de emigração” ou “de imigração” costuma se associar a um diagnóstico que, por simplista que seja, possui grande força: o de que as nações receptoras de imigrantes teriam atrativos derivados da qualidade de vida disponível à sua população, enquanto as terras “expulsoras” de emigrantes apresentariam graves problemas de ordem social, política e econômica.
Sabemos bem como essa classificação binária deixa de ser significativa no contexto da globalização, quando os movimentos de diversas escalas e durações se aceleram, quando as facilidades para o deslocamento se multiplicam (acompanhadas, é verdade, de importantes iniciativas de repressão aos fluxos migratórios), quando, enfim, a idéia de mobilidade, de flexibilidade, é erigida como valor a ser perseguido por indivíduos e economias.
A verdade é que assistimos à transformação de áreas tradicionalmente de emigração em terras de imigração, como no caso dos países europeus mediterrâneos. Ao mesmo tempo, outras áreas do planeta