A igreja mente
Frei Betto - Eu queria começar com o seguinte: você tem que idade e quantos livros publicou?
Leonardo Boff - Bom, eu tenho 58 anos e 62 livros publicados.
Frei Betto - Teu pai era um erudito, ex-seminarista jesuíta, e a tua mãe morreu muito tempo depois dele, analfabeta...
Sérgio de Souza - A minha pergunta inicial era por aí mesmo: como foi a sua infância?
Leonardo Boff - Sou filho de imigrantes italianos, de avós italianos que foram para o Rio Grande do Sul e daí para Santa Catarina, no interior, e desbravaram a região que é Concórdia hoje, que é a sede da Sadia. Meu pai tinha sido quase jesuíta e fez uma opção curiosa, que foi a de acompanhar a colonização da região para ser professor, o farmacêutico, o juiz de paz, mestre-escola, puxador de orações, era um mestre da colonização.
Frei Betto - Falava várias línguas...
Leonardo Boff - É, dava aulas em italiano e alemão. Quando veio a Segunda Guerra e a imposição do governo de que todos deviam falar o português, ele então começou a ensinar em português, a escola não podia mais ensinar em italiano e alemão.
Frei Betto - Ele sabia grego e latim...
Leonardo Boff - Ele conhecia muito bem o latim e o grego, e durante seus trinta anos como professor ensinou rudimentos de latim e grego a todos os estudantes. Tanto que, quando cheguei ao seminário, com 12 anos, eu conhecia as palavras básicas do latim e do grego. E, como na região todos só falavam alemão e italiano, ele criou uma espécie de biblioteca popular, mais de 2.000 livros, e depois da reza da comunidade cada família buscava um livro, tinha de ler em português, e no outro domingo tinha de contar o que leu, numa roda de mais de cem pessoas. Ele se fez também representante de uma loja de rádios de Porto Alegre, e montava em cada casa da nossa região um rádio, para a família ouvir o dia inteiro e assim aprender o português. Quando não queriam, ele montava o rádio em cima