A ideoogia em pessoa
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123 COMENTÁRIOA ideologia em pessoa Paulo Silveira* Em meados dos anos setenta, Claude Lefort publicou um texto sobre a ideologia1 que causou um certo impacto em vários círculos intelectuais e políticos. Apesar da crítica à noção de ideologia, tal como ela se consolidara no campo do marxismo, especialmente na Ideologia alemã, o intuito de Lefort não era o de propor o “fim da ideologia”, como outros haviam feito antes dele, mas, bem ao contrário, pretendia imprimir-lhe fundamentos mais sólidos e rigorosos. Atento aos seminários e textos de Lacan sobre a psicanálise, Lefort faz intervir, em sua contribuição à noção de ideologia, os três registros dos quais se vale Lacan para fazer avançar a teoria psicanalítica: o real, o simbólico e o imaginário. Apesar de considerar fecunda a contribuição de Marx à teoria da ideologia, Lefort mobiliza os três registros lacanianos para criticá-la, especialmente, por terem os autores da Ideologia alemã, (Lefort, C., ob.cit., p.299) . Por desconhecido “a dimensão simbólica do campo social”
certo, Lefort não está censurando Marx e Engels por não conhecerem o trabalho de Lacan, mas apontando o lugar quase negligenciável que a dimensão simbólica ocupa na Ideologia alemã. Contudo, Marx e Engels nos mostram, neste mesmo texto, o movimento feito pela classe dominante com o intuito de transformar as suas idéias (eu diria, também, ideais) particulares em idéias e ideais universais. Movimento que começa na base econômica, com os interesses materiais da classe dominante, que, por sua vez, se expressam em idéias dominantes (e em dominação) e, como tais, transformam-se, como escrevem os autores, nas “únicas racionais, nas únicas universalmente válidas”. Portanto, para ser efetivada socialmente como dominação, essa universalização das idéias das classes dominantes precisa recobrir o conjunto das instituições sociais, e isso independentemente dos diferentes conteúdos particulares que a ideologia venha a assumir, no direito, na filosofia, na