a história do teatro
| E-ISSN 1808-2599 |
A presença de “Iracema, uma transa amazônica” (1974) no cinema brasileiro
Pedro Vinicius Asterito Lapera
“Brasil, ame-o ou deixe-o”
Resumo
Configurando práticas discursivas presentes na
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1 Introdução
encontram-se na estrutura dramática de diversos
Sintetizando a postura da ditadura militar após a
filmes nacionais. Este trabalho pretende analisar o
promulgação do AI-5, em 1968, a epígrafe sublinha
filme Iracema, uma transa amazônica (1974), dos diretores Jorge Bodansky e Orlando Senna, para
a conciliação forçada promovida por esse regime.
compreender como as retóricas do nacional e da
Com as bases políticas totalmente truncadas e uma
raça complementam-se e se contradizem. Partimos da hipótese de que o filme articula uma transição
constituição feita para agradar a muito poucos, o
entre duas formações discursivas: a do nacional-
novo regime apoderou-se de tal modo do aparato
popular e a identitária.
Palavras-chave
estatal que as instituições viram-se capitaneadas
Estudos culturais. Raça. Cinema brasileiro.
pela ideologia nacionalista do período.
É nesse cenário que o cinema brasileiro, logo após a criação da EMBRAFILME (em 1969), teria de se situar. Ao longo da década de 70, os filmes brasileiros provaram – tanto em suas estruturas narrativas quanto na sua recepção – que a disputa pelo consenso no lugar do nacional estava longe de ser encerrada1. Todavia, as práticas em torno das quais essa disputa se dava tiveram de ser alteradas, por conta do evidente cerceamento da liberdade de expressão2.
Pedro Vinicius Asterito Lapera | plapera@gmail.com
Este breve ensaio pretende localizar-se em
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Federal Fluminense – UFF –, professor e técnico em
Pesquisa da Fundação Biblioteca Nacional – FBN/Minc.
um dos aspectos historicamente presentes nesse debate: a questão racial.