A Grécia Arcaica de Homero a Esquilo - primeiros capítulos
Séculos VIII - VI a.C.
Capítulo I
Homero e a História
Que uso pode dar o historiador à obra de Homero?
Há quem não veja aí mais que um falso problema, pois uma obra de arte basta-se a si mesma, não tendo que refletir nenhuma realidade em concreto. Mas, por outro lado, é inegável que os heróis parecem sempre mover-se num mundo real e que o poeta se baseou em uma realidade determinada. Desde logo, torna-se permissível questionarmo-nos sobre essa parcela de real que, como em toda obra literária, também a poesia homérica contém em si.
1. O aedo e o seu público
Por mais imaginário que possa ter sido o reino dos Feaces, não seria possível duvidar da cena assim descrita no canto VIII da Odisseia. O aedo, esse cantor inspirado pela Musa que anda de mansão em mansão evocando os altos feitos da guerra de Tróia acompanhado de sua lira, não poderia ser o próprio Homero? Sob o nome de Homero, sabe-se que chegou até nós um certo número de obras, nas quais se incluem dois longos poemas com, respectivamente, dezesseis mil e doze mil versos, a Ilíada e a Odisseia. Desde a Antiguidade, em que tal já sucedia, que se discute a paternidade homérica de textos de caráter religioso conhecidos pelo nome de Hinos. Se não houvera nesta época um poeta chamado Homero, pelo menos há de ser ele o autor da totalidade das duas epopeias.
É evidente que torna-se impossível passar aqui em revista todos os argumentos, filológicos ou históricos, adiantados por uns e por outros em relação à personalidade de Homero ou à data de composição dos poemas. Contudo, o problema veio a ser reformulado neste século, designadamente por altura dos anos 30 (na sequência dos trabalhos o antropólogo Milmann Parry). Ele concluíra que, à semelhança do bardo jugoslavo, os aedos gregos recorriam ao mesmo sistema pelas mesmas razões, cada um deles a enriquecer os poemas com novos episódios ou novos desenvolvimentos, fato que permitiria explicar a aparente desordem da sua feitura. A