A grande seca de 1877 - migrações e experiencias do sertanejo

10604 palavras 43 páginas
A grande seca de 1877-1879, ou “secca-tipo”, como costumava se referir Rodolpho Theóphilo, começou como tantas outras já conhecidas pelo povo sertanejo: o sol bate a pino; os açudes, riachos e rios secam; o gado, fraco e com sede, morre; a agricultura é perdida; a ração familiar torna-se insuficiente ou inexistente, o sertanejo recorre ao xique-xique, ou até mesmo à santa e diabólica mucunã1. Mesmo assim, o sertanejo espera até o dia 19 de março, dia de São José, padroeiro do Ceará, para ter esperanças, ou ver confirmada sua sina.

nesse dia é que se saberia a sorte do Ceará. Na noite do dia 18 de março poucos foram os que dormiram. Ao quebrar das barras já todos estavam nos terreiros, com o olhar fito no levante. O céu estava limpo e ponteado de estrelas, que esfuzilavam em todos os rumos. Um movimento de nuvens foi aparecendo no nascente ao mesmo tempo que um vento frio soprava de floresta a fora. A luz do luar em plenilúnio ia enfraquecendo, à proporção que a claridade crepuscular ia aumentando: não tardaria o aparecimento do sol. As nuvens afastaram-se como um reposteiro, que fosse corrido, brilhou a aurora, franjando de ouro o contorno dos estratos, depois apareceu o sol, um globo de fogo, semelhante a cobre fundido. O vento de leste esfuziou mais forte e foi uivando de mundo afora, torcendo a ramaria das árvores, levantando do solo nuvens de folhas secas e de poeira. Os sertanejos, que olhavam o nascer do sol, baixaram a vista, alguns chorando sua sentença de morte. 2

A partir desta data, perdidas as esperanças de chuva, o sertanejo começa a “arribar” de sua terra natal. Seguindo um caminho até já conhecido dos mais velhos, veteranos de outras secas, o sertanejo, em um primeiro momento, procura os vales serranos, vilas e cidades litorâneas. Mas os vales também estavam secos, áreas úmidas como as chapadas da Ibiapaba, Meruoca, Araripe, Baturité e cercanias da capital, como Maranguape, também sofriam os males da escassez de água da chuva. Vilas e

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