A GOVERNAMENTALIDADE
Topologias de poder
a análise de Foucault sobre o governo político para além da “governamentalidade”
A publicação das conferências de Michel Foucault no Collège de France proporcionou uma nova compreensão sobre desenvolvimentos-chave em suas últimas obras – o muito discutido retorno ao Estado.1 Se em suas investigações sobre disciplina, Foucault notoriamente deixou de lado a questão do poder soberano, posteriormente, a partir de 1976, como observa Colin
Gordon (1991), ele desenvolveu uma investigação multidimensional sobre problemas de “soberania política sobre a sociedade como um todo”. De um modo crucial, esse desenvolvimento ligou-se à introdução da biopolítica, como uma categoria central de análise, no volume introdutório da História da sexualidade e nas conferências publicadas no livro Em defesa da sociedade (ambos de 1976). Hoje, presenteados com um quadro mais completo de seu extraordinário trabalho durante esse período, os estudiosos estão confrontados com o desafio de revisitar conceitos-chave desenvolvidos nas conferências de 1976, 1978 e 1979 – tal como o muito discutido “governamentalidade” – e de repensar como as investigações de Foucault sobre o governo político se adaptam às complexas mudanças em seu enfoque sobre o poder após Vigiar e punir.
Segundo uma interpretação dominante, com a introdução da biopolítica em 1976, Foucault simplesmente deslocou seus já existentes instrumentos Do original “Topologies of power: Foucault’s analysis of political government beyond ‘governmentality’”, publicado na Theory, culture & society (vol. 26, nº 6, 2009). Direitos autorais concedidos pela Sage
Publications Ltd. Traduzido por André Villalobos.
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Revista Brasileira de Ciência Política, nº 5. Brasília, janeiro-julho de 2011, pp. 245-284.
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para o estudo de um novo objeto: o Estado. Nessa perspectiva, as conferências de 1978 (Segurança,