A GLOBALIZA O E O DESENVOLVIMENTO
Paulo Roberto de Almeida*
1. Definindo a questão: a complexa relação entre a globalização e o desenvolvimento
A temática deste ensaio aborda um dos mais complexos problemas da agenda econômica contemporânea (ou da própria política prática), a saber, a questão das relações causais ou, em sentido amplo, a das interações entre, de um lado, o processo de integração crescente dos sistemas produtivos nacionais, dos fluxos financeiros e dos intercâmbios globais de bens e serviços, sob a égide do sistema multilateral de comércio, e, de outro, o crescimento sustentável de uma determinada economia nacional, com modernização de suas estruturas sociais e políticas. Obviamente, existem outros fatores em jogo no processo de desenvolvimento, sobretudo os de natureza institucional e aqueles relativos ao substrato cultural da sociedade em questão, mas não parece ser possível isolar, nos últimos dois ou três séculos de “capitalismo triunfante”, qualquer processo nacional de modernização econômica e social dos fluxos e refluxos das trocas inter-societárias – tecnologias, capitais, homens, ademais de produtos físicos e de bens intangíveis – que atuam sobre aquele processo nacional, no contexto da crescente interdependência planetária.
Em perspectiva histórica, trata-se de um problema, que os economistas clássicos sempre tentaram interpretar teoricamente a partir de suas reflexões sobre os efeitos transformadores das novas técnicas e dos processos e produtos importados sobre uma economia em estado de equilíbrio instável. Ora uma economia, por mais autárquica que seja, sempre se encontra em estado de “equilíbrio instável”, isto é, ela vive confrontada a processos dinâmicos de adaptação a “bolhas” de crescimento, à instabilidade dos ciclos de negócios, às crises financeiras e ao deslocamento do emprego, em função da evolução das técnicas, em mutação lenta ou rápida, segundo as épocas e as sociedades.