A GEOGRAFIA FEMINISTA E AS RELAÇÕES DE GÊNERO: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O ESPAÇO PARADOXAL FAMILIAR E HOMOAFETIVO
Analisamos uma questão timidamente debatida no âmbito da Geografia brasileira: a interface entre gênero e sexualidade, a partir das falas de mulheres homoafetivas. Objetivamos, portanto, visibilizar a ocupação do espaço de sociabilidade familiar dessas mulheres e pensarmos a maneira como os estereótipos fundados no dualismo “feminilidade” e “masculinidade” atingem e influenciam esse espaço. A análise proposta se espraia nas relações de gênero existentes no cotidiano das colaboradoras desta pesquisa, sob o prisma de suas percepções em torno da imposição da “feminilidade” como um padrão a ser seguido palas mulheres.
1. A Geografia Feminista a as Relações de Gênero
Para as geógrafas feministas, a Geografia é uma ciência que invibilizou grupos ditos como “minorias” das análises e interpretação da produção do espaço geográfico. Surge, portanto, a necessidade de incluirmos categorias como gênero e sexualidade, no intuito de “romper a perspectiva andrógena na produção do conhecimento geográfico” (SILVA, 2003), visibilizando as mulheres como produtoras e ocupantes de diversas espacialidades. Joseli Silva afirma ainda que se observada a produção histórica da ciência geográfica tradicional, poderemos notar que a perspectiva masculina constitui, majoritariamente, o centro de suas concepções teóricas. Bondi e Domosh (apud SILVA, 2003) reforçam esse argumento, apontando a complexidade da interpretação e expansão da visão feminista aplicada à Geografia. Já Kay (apud ORNAT, 2008), afirma que os estudos em Geografia Histórica ocultaram as mulheres de suas análises: “(...) Isto resulta em uma paisagem histórica, em que apenas