A fábula da liberdade
Magali Thais Sebold¹ A educação tem uma função bastante conveniente para a dominação estatal. Função essa que ela exerce com maestria. É no âmbito escolar que o indivíduo torna-se domesticado, é ali que recebe as orientações fundamentais para se encaixar no quebra-cabeça que é a sociedade atual. Percebe a existência da hierarquia, da repressão, da desigualdade social, da necessidade de qualificação profissional voltada para o mercado, muitas vezes afogando as suas pretensões pessoais. Mas até que ponto o que se vive é uma servidão voluntária e até aonde pode ir a desobediência civil? No século XVI um jovem chamado Étienne de La Boétie escreveu um livro chamado “O discurso da servidão voluntária”, no qual questionava o ato de alguém sujeitar-se a uma autoridade superior e declarava que a covardia impede o cidadão de ser autônomo. Dizia ele “A primeira razão pela qual os homens servem de boa vontade é porque nascem servos e são criados como tais” (LA BOÉTIE, 2009, p. 49). Nesse sentido, educado seria aquele que desempenha as suas funções de acordo com o combinado socialmente e pregado nas instituições educacionais. É preciso lembrar que temos vários outros agentes formadores sociais, como a igreja, a moral, o sindicato, as leis, a televisão, etc. E, estes, também reafirmam a passividade, ao invés de fazer refletir sobre o contexto a que estão inseridos. A educação, para servir a esses moldes, precisa ser boa o suficiente para instruir o sujeito às regras, e precária para não despertar nele o ato de pensar com autonomia. A democracia indireta faz com que ao se escolherem outras pessoas para representar os cidadãos, eles também os escolhem para oprimi-los e para educá-los. A liberdade passa a ser regulada pelos próprios representantes do povo. Segundo Dufour, a educação limitada e a falsa ideia de liberdade produzem um “sujeito precário, acrítico e psicotizante”, isto quer dizer, um sujeito aberto às flutuações do mercado e do governo